Home Artigo-Opinião Sobre boatos e fatos: escolas já, a educação não pode parar. Por Eliane de Jesus

Sobre boatos e fatos: escolas já, a educação não pode parar. Por Eliane de Jesus

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                             Ainda que sejam usadas como sinônimos: “escola e educação” não são

                              a mesma ou uma só coisa.

Jesus, 2020

A afirmação acima tem quase um ano e para mim permanece inadiável, contemporânea e necessária. Quando a utilizei esperançava que o complexo ano letivo vivenciado e todos os esforços empreendidos em conjunto pela educação, nos tivesse conduzido à conclusão de que “educação existe para além da escola”. Contudo, compreendo e me parece mesmo que esse é um exercício válido: falar com e sobre. Iniciemos então…

Falar com: tão difícil, mas, tão necessário. Falar sobre: impessoal e tentador. Preciso que você escolha um deles antes de continuarmos, pois disso dependerá esse diálogo.

Falamos sobre futebol, religião, política e tantos outros. Educação nem tanto, não antes disso tudo acontecer; isso era assunto de professor, coisa dos profissionais da escola ou pauta de políticos em época de eleição. Hoje não, a educação está em pauta, ao menos é o que parece. Mas, será mesmo? Observem que as discussões têm tido como centro a reabertura das escolas e não a educação em si. Alguém pode dizer que é a mesma coisa, todavia escola não é sinônimo de educação. A primeira representa uma estrutura, espaço, lugar; a segunda um ideal, um processo dinâmico e social, um fazer e ser lugar.

“Fazer lugar não é só oferecer uma carteira/uma vaga, uma matrícula, é alojar desde as próprias sensibilidades e representações um horizonte de igualdade. Oferecer um espaço que potencie o aprender desafiando qualquer determinação confiscatória do futuro. ”[1]

Diga-me então: é possível fazer e ser lugar em qualquer lugar?

Para quem elege falar sobre escolas, a ausência de professores em sala pode causar espanto, quem sabe revolta e ensino remoto pode ser sinônimo de educação sem supervisão. Convenhamos que o cenário é de desesperança, isso é compreensível. Porém, ao contrário do que se quer acreditar, para nós que falamos com: salas vazias chocam mais; corredores desertos nos causam estranhamento, o pátio é cinza e o silêncio solitário. Contudo, o medo, a insegurança que nos cerca e a possibilidade de perdermos mais vidas é ainda mais aterrador.

Sobre boatos: não creio ser possível argumentar com eles, em momentos de mágoa talvez ouse falar sobre, contudo, me recuso a falar com.

No que se refere a fatos: aqui estamos todos, profissionais da educação nas escolas, cumprindo nossa carga horária, elaborando, planejando, dialogando (o que já vinha sendo feito). Talvez, isso traga mais conforto ou aprovação para alguns; quem sabe para outros, faça mais sentido que esse trabalho fosse feito de casa. Afinal qual é o ideal? Deixo com vocês a resposta, se é que ela é possível.

Para Libâneo[2] “a consolidação dos conhecimentos depende do significado que eles carregam em relação à experiência social das crianças e jovens na família, no meio social, no trabalho”.

Certamente nossas crianças e jovens não tenham se apropriado da maior parte dos conteúdos curriculares, mas, e quanto as experiências vivenciadas e compartilhadas? Não seriam igualmente válidas?

Nós, profissionais da educação, mulheres, mães, companheiras e amigas, sentimos sua angústia, compreendemos seus temores e acreditem também compartilhamos deles. Seja aqui da creche, da escola, ou de casa nosso objetivo é o mesmo: atender nossas crianças, fornecendo todo o suporte possível para que elas passem pelo grande aprendizado que é a vida.

Estamos todos aprendendo, a todo tempo e momento. Que possamos valorizar não apenas o conhecimento historicamente acumulado, mas também aqueles que buscam diariamente contribuir para essa construção.

Continuem cuidando de nossas crianças. Em breve, somaremos com vocês!

Por Eliane de Jesus: “Mestra em Educação pela UFMT, atuando na Educação Infantil do município de Porto dos Gaúchos”

Referências

JESUS, Eliane Maria de. “Sociedade sem escolas”: educação em tempos de pandemia. In: Porto Notícias. 24 de maio de 2020. Disponível em: http://portonoticias.com.br/sociedade-sem-escolas-educacao-em-tempos-de-pandemia-por-eliane-de-jesus/.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.

RIBETTO, Anelice; RATTERO, Carina; BREIA, Vanessa. Três cenas produzidas entre educação, infâncias e diferença. In: CARREIRO, Heloisa Josiele Santos Carreiro; TAVARES, Maria Tereza Goudard (org.). Estudos e pesquisas com o cotidiano da educação das infâncias em periferias urbanas. São Carlos: Pedro & João Editores, 2018.

[1] (RIBETTO; RATTERO; BREIA, 2018, p. 155).

[2] José Carlos Libâneo (1994, p.87).

 

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