O número de internados com coronavírus em estado grave em São Paulo teve alta de 42% em um dia – foi de 59 para 84 entre quarta-feira (25) e quinta-feira (26). No total, o Estado tem 862 casos confirmados e 58 mortes.
O governo paulista afirmou que manterá a quarentena e cogita ampliar restrições – o secretário da Saúde José Henrique Germann, citou até o fechamento total do Estado (lockdown) como medida futura, caso hospitais entrem em colapso.
A avaliação de técnicos do Estado é de que fechar o comércio retardou o avanço da doença, na comparação com o resto do País. “Éramos praticamente 90% dos casos do Brasil e agora somos 30%. O que significa que há expansão da epidemia, e de forma acelerada”, disse Germann. No Brasil, são 77 mortes e 2.915 casos diagnosticados, em todos os Estados e Distrito Federal. São Paulo concentra a maioria dos óbitos, mas há registros em Rio, Ceará, Pernambuco, Santa Catarina, Goiás, Rio Grande do Sul e Amazonas.
Desde a semana passada, a determinação da gestão João Doria (PSDB) foi a de fechar o comércio, exceto serviços essenciais, como mercados e farmácias. A medida vale pelo menos até o dia 7 de abril. Ontem, o diretor-presidente da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Ghebreyesus, voltou a defender o isolamento social.
A gestão Doria cogita aumentar ainda mais as restrições conforme a evolução da epidemia. “Existe uma gradação. O que estamos fazendo não é um isolamento. É distanciamento social. O próximo passo, se houver necessidade, é isolamento domiciliar ou social. E, se houver necessidade ainda de apertar mais esse cinto, aí seria o lockdown. E a característica, aí, é o uso da força policial para manter as pessoas em casa”, afirmou Germann. “Não estamos nesta situação ainda, mas não sei se estaremos ou não.” Doria disse anteontem cogitar multas a idosos que saiam de casa sem necessidade, como foi anunciado em Porto Alegre.
Segundo Germann, “se mantivermos idosos em casa, tal qual lockdown, teremos comportamento da crise que talvez nos favoreça nesse ponto para não colapsar o sistema de saúde”. No Estado, já são erguidos hospitais de campanha e unidades de referência têm se preparado para a chegada do pico do surto. O Hospital das Clínicas, por exemplo, liberou 900 leitos para atender à nova demanda.
Para o secretário, o ritmo de aumento de infecções confirmadas em São Paulo mostra que as medidas de restrição são “suficientes ou vêm colaborando de forma bastante efetiva”.
Efeitos
Especialistas dizem que o isolamento é a medida mais indicada para conter o avanço rápido da epidemia, mas leva alguns dias para ver os resultados. Para Bernardino Souto, médico e pesquisador da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), é cedo para mapear resultados da quarentena paulista. “É possível que São Paulo tenha tomado medida mais radical e a quarentena esteja ajudando. Mas essa é uma hipótese.”
Outro ponto, diz Souto, é dimensionar o alcance da testagem no Brasil. Pesquisas estimam cerca de 84% dos casos não diagnosticados, por serem assintomáticos ou falta de exame. A testagem em larga escala é considerada crucial para rastrear o avanço da doença – foi a aposta da Coreia do Sul, que conseguiu controlar o surto. O Brasil promete 22,9 milhões de testes, mas esbarra em desafios logísticos, como a capacidade de produção da Fiocruz.
População de rua
A Prefeitura de São Paulo anunciou nesta quinta-feira que deu início à instalação de pias na região central para auxiliar a higienização de pessoas em situação de rua. A instalação ocorre em locais de grande aglomeração da população de rua, como Praça da Sé e Largo de São Francisco.
A SMADS (Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social) também promete fazer a distribuição de sabonetes aos moradores de rua. De acordo com o órgão, também foram intensificadas as abordagens às pessoas em situação de rua, consideradas vulneráveis à covid-19.