Repentinamente, você começa a suar frio, sente uma aceleração dos batimentos cardíacos, formigamento em regiões do corpo e uma sensação horrível que te consome aos poucos. Embora passageira, essa mudança brusca de humor e bem-estar podem ser caracterizada como sintomas de síndrome do pânico.
Segundo o filósofo, psicanalista e especialista em estudos da mente humana Fabiano de Abreu, viver em épocas de reclusão e quebra da rotina, em que o medo vira cenário constante, pode trazer consequências, por vezes graves, à saúde dos indivíduos.
“A ideia de isolamento causa transtorno e mais ainda se nos depararmos com a incerteza de quando terminará. A liberdade global que vinha sendo construída choca com esta nova vivência. As plataformas de mídias sociais, lançam alertas a todo o momento, saturam de informações que aos poucos nos começam a angustiar, a colocar em nós um mal-estar permanente, uma tristeza instalada. E, se a isso, juntarmos outras condições que já possamos ser portadores como é o caso das pessoas hipocondríacas, todo o panorama geral piora”, introduz o especialista.
Por isso que ficar atento aos pequenos detalhes e mudanças de comportamento podem ser essenciais para um tratamento rápido e eficaz, mesmo que durante a quarentena.
O que é a síndrome do pânico?
É um conjunto de reações fisiológicas e emocionais que ocorrem sem que a pessoa esteja necessariamente passando por uma situação delicada ou conflituosa em sua vida. “É como um alarme que está quebrado e dispara a qualquer momento, em qualquer lugar, gerando ações de desespero e ansiedade”, exemplifica a psicóloga Olga Tessari.
Assim, não há uma forma exata de dizer quando ou como a crise surgirá, suas causas são imprevisíveis. Mas, existem alguns fatores que podem indicar uma maior predisposição para o seu aparecimento. Em primeiro plano, o cenário atual de pandemia por si só já é um gatilho para despertar alguns sintomas de síndrome do pânico.
São pessoas com histórico de exigência e crítica na infância, ou que são extremamente produtivas profissionalmente, abraçando muitas responsabilidades e tarefas. Geralmente se cobram bastante, são perfeccionistas e não lidam bem com erros ou imprevistos.
Sintomas de síndrome do pânico
As sensações de uma crise de pânico podem ser divididas em grupos. O primeiro são os sintomas físicos. “É comum observarmos o aumento da frequência cardíaca da pressão arterial, da sudorese, do ritmo respiratório, dos tremores e da tensão muscular exatamente como se o organismo estivesse se preparando para uma situação de ameaça”, relata o psicólogo Rodrigo Pessanha de Castro.
Em seguida, a pessoa passa a interpretar essas reações como um sinal de que o ataque está perto, o que gera mais ansiedade. Esse aumento amplifica também as sensações fisiológicas. E, com a ansiedade cada vez maior, a crise de pânico se inicia.
“Ao passar pelas primeiras ondas, o sistema de defesa associa os sintomas iniciais do ataque e o ataque de pânico em si em uma memória de pareamento. Dessa maneira, ao começar a sentir taquicardia, falta de ar ou qualquer outro sintoma de síndrome de pânico, a pessoa rapidamente evolui para o ataque em si. O mesmo ocorre com situações ou locais que remetem às crises”, explica Rodrigo.
Em época de pandemia
Apesar dos tempos difíceis e de incerteza que se vivem, ceder-lhes não deve nunca ser uma opção. Devemos antes nos adaptar à nova realidade e tirar o maior partido possível dela. Para isso, Fabiano cita algumas atitudes que podem contribuir para o controle das crises de pânico.
Consumir informações de forma consciente
Avaliar possibilidades, utilizar a nossa inteligência emocional para que, com o uso da razão e racionalidade, possamos avaliar o conteúdo da informação e buscar sempre o lado positivo mesmo em uma tragédia. “Por exemplo, o coronavírus é perigoso? Sim, mas mata menos que muitas outras doenças e se nos mantivermos imunes sobreviveremos. O mundo não vai acabar”, enfatiza o Fabiano.
Tenha coisas a fazer
Use o tempo livre para fazer um balanço da sua vida e faça os ajustes necessários. Procure novas opções de negócios ou dedique-se a algo novo. Isso lhe dará a sensação – e de fato – que a sua rotina não está parada e está a lutar por ela.
Reforçar laços familiares
Nada melhor do que a socialização com pessoas próximas para abrandar os sintomas de síndrome de pânico. Conversem sem pressa, façam atividades juntos, discutam sobre planos do que fazer quando tudo terminar. Aproveite este tempo para se desligar um pouco do virtual e viva o real com a sua família.
Entre em contato com a natureza
Procure lugares em que se possa conectar com o ambiente, o jardim da sua casa, quintal ou cômodo com fluxo maior de vento. Estar em contacto com a natureza é calmante e relaxante e enche-nos de esperança. A maioria das pessoas não têm tempo no seu dia-a-dia para aproveitar momentos assim.
Conecte-se com você
A prática da meditação pode ajudar – e muito – nesses tempos de isolamento. Além de trazer benefícios para a saúde mental e física, também colabora no desenvolvimento de hábitos de relaxamento. Como, por exemplo, uma respiração mais concentrada e a introspecção momentânea para um autoconhecimento.
Pratique exercícios
O isolamento domiciliar não significa que você não pode suar a camisa. Existem diversos aplicativos de treino em casa, utilizando apenas a força do corpo e objetos de fácil acesso. Uma outra fonte de energia positiva é a dança. Nela, você se distrai e, ainda, ativa todas as áreas do seu corpo.
Lidando com o home office
No trabalho em casa, a crise preocupa? Faça uma gestão pessoal e utilize-a ao seu favor. Busque o ponto de equilíbrio para meditar sobre o que terá que ser feito ao longo do dia e como buscar soluções para que seja menos afetado por esses males. Faça uma lista de metas e tente desenvolvê-las sem pressa ou cobranças. Uma hora tudo isso vai passar, e você voltará a sua rotina profissional.
Pense positivo
A atitude positiva em relação às adversidades é sempre a melhor opção e confere mais força na luta! Fazer com que cada dia conte e tenha significado.
Entenda a crise
Geralmente, a instabilidade surge em ciclos, passando por etapas bastante semelhantes de uma para a outra. Anote no seu bloco de notas o que aconteceu antes de uma crise começar. Em pouco tempo você verá um padrão se repetindo. Ao tomar conhecimento disso, poderá agir de forma racional e deixar a emoção de lado.
Zero cafeína
Quando estamos em casa, a tendência é que tudo vire um excesso, principalmente a alimentação. Fuja da cafeína! Ela é um estimulante, podendo despertar mais ansiedade e claustrofobia. Substitua essa bebida por água gelada.
Música ou som ambiente
Sentiu uma pontada dos sintomas de síndrome do pânico? Coloque uma música que gosta, deixe ela fluir pelos ambientes da casa. Não precisa aumentar muito o volume. Os sons ambientes, como pássaros cantando ou barulho de chuva também podem ajudar.
“Vamos encarar estas circunstâncias como dias de fazer um reset e colocar tudo no lugar mas sem ceder à preguiça. Devemos manter-nos ativos para que a rotina a que estávamos habituados não desapareça totalmente. Nós, humanos, passamos por crises e pandemias ao longo da história e sobrevivemos. Dessa vez não será diferente. Somos altamente resistentes e adaptativos. A vida sempre se reinventa e se renova”, remata Fabiano.