Com o número crescente de novos casos de contaminação pelo novo coronavírus e o índice elevado de óbitos em Mato Grosso, o secretário estadual de Saúde, Gilberto Figueiredo, descartou a possibilidade de o estado retomar as aulas presenciais. Segundo ele, as iniciativas de isolamento social têm se tornado pouco eficazes.
A afirmação foi feita na segunda-feira (13), durante 7ª reunião da comissão especial que analisa a possibilidade de retomada das atividades escolares na rede pública estadual em Mato Grosso. Segundo ele, a população não acredita mais nesse mecanismo de contenção do avanço da Covid-19.
“As ocupações dos leitos das Unidades de Terapia Intensiva, no último final de semana, atingiram 98%. A curva de crescimento da infecção da Covid-19 já ultrapassou a capacidade hospitalar e ainda deve continuar ao longo do mês de julho, de forma crescente. Mato Grosso terá um período desconfortável pela frente. Por isso. não vislumbro a curto prazo a volta às aulas com segurança; sem colapsar ainda mais o sistema de saúde”, disse Figueiredo.
Alinhada à fala de Figueiredo, a secretária estadual de Educação, Marioneide Angélica Kliemaschewsk, também descartou a possibilidade de o estado retornar as aulas presenciais para os estudantes das escolas públicas estaduais. Segundo ela, a Seduc está alinhada às ações tomadas pela SES.
“Não há o que se falar no momento sobre retomada de aulas presenciais. A Seduc está desenvolvendo com assessores e professores aplicativos que possam efetivar as aulas por meio on-line. A Seduc está trabalhando para levar aulas de qualidade aos estudantes e estamos abertos às sugestões das entidades, pois é necessário que os estudantes retomem o calendário escolar”, disse a secretária.
O presidente da comissão especial, deputado Valdir Barranco (PT), mostrou-se preocupado com os números apresentados pelo governo, que projeta para os próximos dias um aumento de 30% nos óbitos em Mato Grosso. “Isso preocupa muito. Além disso, o estado entra num período de baixa umidade relativa do ar, de muitas queimadas. Isso traz problemas respiratórios graves à população”, alerta Barranco.
O petista afirmou ainda que há um compromisso da Secretaria de Estado de Saúde e da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) de construírem um protocolo sanitário de retorno às aulas para ser apresentado à comissão especial.
“Quero reforçar esse pedido, porque sei que a SES e a Unemat estão trabalhando nesse documento. Na apresentação feita pela SES, o estado não tem a menor condição de voltar com as aulas presenciais”, disse o deputado.
Barranco afirmou ainda da possibilidade de a Assembleia Legislativa firmar uma parceria com a Unemat. O objetivo é melhorar a infraestrutura da instituição de nível superior para a realização de exames voltados a combater à Covid-19. Segundo Barranco, as tratativas devem ocorrer esta semana com o presidente Eduardo Botelho (DEM) e o 1º secretário Max Russi (PSB).
O professor da Unemat Rodrigo Bruno Zanin afirmou que a instituição está elaborando o protocolo sanitário, mas voltado, num primeiro momento, à própria instituição. Depois disso, os estudos serão compartilhados com a SES e com a Seduc.
“Paralelo a isso, há um estudo junto à Escola de Estado de Saúde para atendimentos de psicólogos. Temos a proposta de credenciar o laboratório da Unemat à realização de exames de PCR, para a detecção de vírus causador da Covid-19. Mas estamos encontrando dificuldades para a aquisição dos insumos”, disse.
O presidente da Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM), Neurilan Fraga, disse que não adianta ter UTIs e leitos hospitalares em Mato Grosso se a população e parte do setor econômico não respeitarem as regras impostas pelos gestores municipais.
“A minha preocupação aumenta com o possível retorno das atividades escolares. Isso vai mexer com o crescimento do número de pessoas contaminadas. Se o retorno escolar não for trabalhado no momento certo, o controle de combate à Covid-19 ficará inviável”, disse Fraga.
O promotor do Ministério Público Miguel Slhessarenko Junior cobrou o secretário Gilberto Figueiredo a formatação do protocolo sanitário de todas as escolas públicas estaduais.
“Já fiz essa provocação à SES, mas ficou esse encargo à Seduc, que tem a responsabilidade de elaborar o protocolo de retorno das atividades escolares sem que haja aglomerações. Isso vai depender muito de protocolo da Seduc e do controle da pandemia pela SES”, observou Slhessarenko.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso (Sintep-MT),Valdeir Pereira, mostrou-se preocupado com o acesso universal dos estudantes às plataformas de ensino que serão implementadas pela Seduc, por meio de aulas on-line.
“Nesses últimos dois anos, vejo o processo de fechamento de laboratórios de informática e não houve uma reposição desses equipamentos dentro das escolas. Envolver os profissionais de ensino nesse processo é importante, mas a carga horária dele é muito maior com as aulas remotas. Como isso vai ficar?”, questionou o sindicalista.
O presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de Mato Grosso (Sinepe-MT), Gelson Menegatt Filho, afirmou que em relação ao ensino público não vê a necessidade de retorno das aulas presenciais. Segundo ele, as escolas privadas vêm trabalhando desde o mês de março sem parar e conseguindo um “know how”.
“Estamos tendo um retorno positivo no interior do estado. Como a escola não tem só um mantenedor, cada escola tem sua plataforma de manter a educação e isso tem funcionado e surpreendido, o que tem ajudado a garantir o pagamento da mensalidade, garantindo o emprego e a continuidade da escola” disse Menegatt.
A apresentação do coordenador estadual da União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação, Edmar Jorge Kamchen, que seria na segunda-feira (13), ficou para a próxima reunião, marcada para quinta-feira (16), às 9 horas. Ele vai detalhar a situação dos Conselhos Municipais de Educação em Mato Grosso. Segundo Kamchen, dos 141 municípios, apenas 24 têm implantados os CMEs.