Em plena pandemia da covid-19, Ministério da Saúde passa por ampla reformulação de equipe. Cerca de 20 militares já foram nomeados para áreas estratégias durante as gestões de Nelson Teich e do general Eduardo Pazuello, que comanda a pasta interinamente, e outros 20 devem ganhar cargos nos próximos dias.
O Centrão também deve receber uma fatia do ministério. Líderes do PP e PL chegaram a um acordo para indicar o médico Marcelo Campos Oliveira a secretário de Atenção Especializada à Saúde (SAES), área cobiçada por liberar recursos para custeio de leitos em hospitais de todo o País. O secretário não foi nomeado, mas os partidos acertaram a negociação com o Planalto. Durante a pandemia, a secretaria já autorizou bancar R$ 911,4 milhões para o funcionamento, por 90 dias, de 6.344 quartos de UTI específicos para a covid-19.
Oliveira é diretor de área subordinada à SAES desde fevereiro de 2019. O cargo de secretário ficou vago no último dia 13, quando foi demitido o administrador de empresas Francisco de Assis Figueiredo foi demitido, indicado do PP ainda no governo do ex-presidente Michel Temer (MDB).
Sob pressão de aliados e após sofrer sucessivas derrotas políticas, o presidente Jair Bolsonaro começou a distribuir cargos aos partidos ao bloco informal formado por, além do PL, Progressistas (antigo PP), Republicanos, PTB, Solidariedade, DEM e PSD em troca de votos no Congresso, ressuscitando o “toma lá, dá cá”.
O ex-ministro Teich chegou a convidar Mauro Junqueira para ocupar a secretaria. Ele é ex-presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems). A negociação se encerrou quando líderes do Centrão pediram o cargo.
Também na gestão Teich, o PL negociou, mas desistiu de indicações para ocupar a Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), pasta estratégica para formular ações sobre o avanço da covid-19 no Brasil, como orientações de distanciamento social. A ala militar teria pedido para preservar o posto de indicação de partidos. O epidemiologista Wanderson Oliveira informou no sábado, 23, à noite que deixará o comando da SVS. Ele já havia pedido desligamento no fim da gestão de Luiz Henrique Mandetta (DEM).
Desde a chegada de Eduardo Pazuello à Saúde cerca de 20 militares foram nomeados ao órgão. Em reunião com representantes de secretários de saúde de Estados e municípios, na quinta-feira, 21, o ministro interino disse que os militares devem ficar temporariamente no órgão.
“São militares da ativa. São pessoas preparadas para lidar com este tipo de crise. É temporário, e vou ter de substituí-los ao longo de 90 dias”, disse Pazuello.
A maioria ocupa cargos na secretaria-executiva, responsável pela gestão de contratos, pessoal, orçamento e dados do ministério. A médica e primeira-tenente Laura Appi, porém, recebeu cargo de diretora de programa na Secretaria de Atenção Primária (SAPS), que lida com a estratégia de saúde da família e atendimento em postos de saúde, entre outras funções.
A ideia é que os cerca de 20 militares que ainda devem entrar na Saúde recebam também, a maioria, cargos na Secretaria-Executiva.
Pazuello estuda, no entanto, nomear um militar como Secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE), posto responsável pelo estudo de novos produtos e pelo diálogo com a indústria farmacêutica. A pasta é estratégica para a análise, por exemplo, de evidências científicas sobre uso da cloroquina contra a covid-19, tratamento defendido pelo presidente Jair Bolsonaro, mas criticado por entidades médicas e científicas.
A SCTIE está sem comando desde esta sexta-feira, 21, quando foi oficializada a saída do médico Antonio Carlos Campos de Carvalho. Ele ficou menos de um mês no cargo e se opôs a nova orientação do ministério sobre uso da cloroquina para todos os pacientes da covid-19.
Procurado, o Ministério da Saúde disse que as nomeações feitas “envolvem profissionais capacitados e com experiência em lidar com situações de crise”. Apesar do avanço de casos da pandemia no País, a pasta alega que “a estratégia de resposta brasileira à covid-19 não foi prejudicada em nenhum momento.”