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Série: Figuras do Nortão

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Ariosto fundou Alta Floresta, Apiacás e Paranaíta.

Ariosto da Riva fundou Alta Floresta, Paranaíta e Apiacás

Melhor escola, impossível! Ariosto da Riva aprendeu a construir cidades com o maior colonizador do Paraná, Geremia Lunardelli. Do Paraná para Mato Grosso – antes de sua divisão – onde criou Naviraí (agora MS). Depois chegou ao Teles Pires em 1974.

 

O grande dia de Ariosto

Calha do rio Teles Pires, município de Aripuanã, quarta-feira 19 de maio de 1976. Ao contrário do Brasil que está em ebulição pelas eleições municipais em novembro, naquele local o assunto era um só: a inauguração de Alta Floresta. Pela manhã Ariosto era a imagem do contentamento acompanhando os tratores arrancando as derradeiras raízes das ruas sem casas, escolas e lojas laterais. À tarde o colonizador estava ainda mais feliz entregando ao Brasil e às gerações futuras um projeto que transformava o vazio amazônico no embrião de uma cidade sonhada para ser moderna. Digo mais: para ser a imagem de seu construtor.

O dia da fundação é a data oficial de Alta Floresta, mas seu distrito foi criado em 19 de setembro de 1977 pelo governador Garcia Neto e a emancipação aconteceu em 18 de dezembro de 1979 com a sanção pelo governador Frederico Campos da lei que criou o município.

As ruas desertas quando da inauguração da cidade mais tarde viveram o boom populacional com o garimpo. Em 1995, quando a atividade entrou em declínio, havia 79.591 moradores. Transcorridos 25 anos, esse número caiu para 51.782. O enxugamento humano somente não é maior porque o êxodo foi estancado e nos últimos anos houve a retomada do crescimento. Dois indicadores sociais mostram que as sequelas com o fim do garimpo estão cicatrizando: o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é 0,714 e a renda per capita R$ 29.714,34. Tratamento de esgoto contribui para a melhoria da qualidade de vida e Alta Floresta, município com 8.953,213 km², está atenta a isso. Por meio de concessão, a cidade coleta e faz tratamento de parte do esgoto. Fé e trabalho nunca faltaram a Alta Floresta; é nesse binômio que se retoma o crescimento. Dentre os líderes religiosos que nos primórdios elevavam as mãos aos céus pela cidade, o pastor baiano Agenor José dos Santos, que aos 77 anos, em 2 de junho de 2016 se juntou ao coro do justos que ora nos céus.

No auge do garimpo havia um frenesi de pequenos aviões no aeroporto da cidade e, na Boate Saramandaiamais de 300 mulheres faziam a alegria dos garimpeiros noite adentro sem hora para o sexo e a bebedeira acabarem. O pagamento quase sempre era feito em pepitas; dinheiro era raro naquela casa, onde a verdadeira moeda circulante atendia pelo nome de ouro. O tráfego aéreo diminuiu em razão da pavimentação do acesso de Alta Floresta à malha rodoviária nacional.

As ruas desertas e sem escola não existem mais. A Educação ajudou a povoá-las com suas crianças e quem primeiro ensinou o bê-á-bá na terra de Ariosto foi o professor Benjamin Paula. O desenvolvimento levou para Alta Floresta um campus da Universidade do Estado (Unemat) e outro do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFMT), com extensão em Paranaíta, e faculdades particulares com ensino presencial e a distância. A cidade ganhou hospitais e inclusive o Hospital Regional. Mulheres e homens povoaram essas ruas e lá não se segrega gênero. Por dois mandatos consecutivos a economiária Maria Izaura Dias Alfonso foi sua prefeita. Mais: a cidade não é adepta da máxima de que santo de casa não faz milagre, tanto assim que em 1990 elegeu seu morador mineiro João Batista Teixeira dos Santos primeiro deputado federal do Nortão.

ARIOSTO – Nasceu de família pobre em Agudos (SP). Sua têmpera esculpida pelo trabalho incessante ao longo de 77 anos abriu caminhos ao desenvolvimento de Mato Grosso e ao sonho de milhares que buscavam no Nortão as oportunidades que não tinham em seus lugares de origem.

Ariosto ganhou reconhecimento nacional. Por sua saga de colonizador, David Nasser, compositor e um dos maiores jornalistas brasileiros o chamou de “O Último Bandeirante“.

Em 25 de julho de 1992 fechou os olhos, mas não deixou sua Alta Floresta onde seu corpo foi sepultado.

Entrou para a galeria dos que construíram o Brasil. Virou lenda.

FOTOS: Boamidia

 

 

Zé Paraná

O fundador de Juara e Tabaporã

 

Na vida pública foi vereador e vice-prefeito de Diamantino, prefeito de Porto dos Gaúchos e duas vezes prefeito de Juara. Na iniciativa privada fundou Juara e Tabaporã e trabalhou na colonização de Porto dos Gaúchos.

Homem simples, de origem humilde, com cheiro de povo Zé Paraná sempre tinha palavra incentivadora e ombro amigo aos pioneiros da região que desbravava.

Morreu aos 75 anos, vitima de um câncer no intestino, em Juara, no dia 28 de fevereiro de 2004 e seu corpo foi sepultado naquela cidade.

Tabaporã, fundada por Zé Paraná

Figura mais importante na ocupação do vazio demográfico do Vale do Rio Arinos. Este é o currículo do paranaense  José Pedro Dias, o Zé Paraná, nascido na cidade de Santo Antônio da Platina e que escreveu com mãos limpas e honradez uma das páginas da transformação econômica de Mato Grosso.

Dentre as homenagens à sua memória, uma estátua em tamanho natural na Praça dos Colonizadores, em Juara.

TABAPORà– Desemembrado de Porto dos Gaúchos em 10 de dezembro de 1991 por uma lei do deputado Hermes de Abreu sancionada pelo governador Jayme Campos, o município tem 8.448,004 km²e 9.489 habitantes. O IDH é 0,695 e a renda per capita R$ 41.489,96.  O município é sede de comarca, sua base econômica é a pecuária seguida pela agricultura e a cidade tem acesso pavimentado.

FOTOS:

1 – Vilson de Jesus

2 – Prefeitura de Tabaporã

Primeiro colonizador no Nortão

 

 

Guilherme Meyer, o Willy, empresário gaúcho em Santa Rosa, fundou Porto dos Gaúchos em 3 de maio de 1955, à margem do rio Arinos, então município de Diamantino – a cidade pioneira do Nortão. Também foi o primeiro prefeito daquele município e morreu em Porto Alegre (RS) no dia 8 de fevereiro de 1994.

Porto dos Gaúchos também foi onde o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (Ibra), embrão do Incra, aprovou o primeiro projeto de colonização rural no Brasil – empreendimento que levou a chancela de Meyer, que respondia pela Colonizadora Noroeste Mato-grossense (Conomali), empresa que executou a urbanização daquela cidade.

Em 18 de março de 1997 o governador Dante de Oliveira sancionou uma lei de autoria do deputado José Riva denominando de “Rodovia Guilherme Meyer” o trecho da MT-220 entre a Rodovia BR-163 e Porto dos Gaúchos.

A reverência à memória do fundador não foi respeitada. Em 17 de março de 2016 o governador Pedro Taques sancionou nova lei, essa de autoria dos deputados Dilmar Dal’Bosco e Baiano Filho rebatizando o mesmo trecho de “Rodovia Ivete Maria Crotti Dorner”.

Ivete morreu em 6 de maio de 2015 num acidente naquela estrada; a camionete que ela dirigia capotou. A homenageada era mulher do ex-deputado federal Roberto Dorner, que é companheiro político de Taques.

Numa cerimônia discreta com a presença de familiares, na manhã do sábado, dia 09 de junho deste 2018, os restos mortais de Meyer foram sepultados no cemitério municipal em Porto dos Gaúchos  O corpo do colonizador estava sepultado em Porto Alegre, no cemitério Memorial Martin Lutero; Meyer passava férias naquela cidade, quando morreu, em 8 de fevereiro de 1994.

                                                                              A cidade e a primeira…


                                                             ... Igreja Luterana em Mato Grosso

PORTO DOS GAÚCHOS – Município com 6.862,118 km² emancipado de Diamantino em 11 de novembro de 1963 por uma lei dos deputados Ágapito Boeira e Walderson Coelho sancionada pelo governador Fernando Corrêa da Costa. Tem 5.410 habitantes, O IDH é 0,685 e a renda per capita R$ 76.599,43. A base econômica é a pecuária.

A cidade tem acesso pavimentado e o município é sede de comarca.

FOTOS:

1 – Conomali

2, 3 e 4 – portonoticias.com.br – Porto dos Gaúchos

Adelmo acertou na mosca

 

Adelmo personifica bem o povo do Nortão
O Nortão é uma região excepcional e o melhor é sua gente. Adelmo Ragnini, homem simples e estranho a Mato Grosso é um bom excemplo do povo que habita a região.

 

Vida pacata, baixa criminalidade, cidade com boa parte pavimentada e com água universalizada nas residências e área comercial, mas sem tratamento de esgoto. Assim é União do Sul, na calha do Rio Arraias, afluente do Manissauá-Miçu, ou simplesmente Manito, na Bacia do Rio Xingu. O município faz limite com o Parque Indígena do Xingu.

Com 4.581,910 km², 3.525 habitantes e densidade demográfica de 0,82 habitante por quilômetro quadrado, União do Sul registrava IDH de 0,665 e renda per capita de R$ 40,624,33.

A economia de União do Sul em seus primórdios era baseada na extração e beneficiamento da madeira. Gradualmente as lavouras mecanizadas avançaram sobre o município e, atualmente, o cultivo da soja e de sua rotação de cultura são os pilares econômicos.

Um trecho de 29 quilômetros sem pavimentação entre União do Sul e Cláudia exclui o município da malha rodoviária pavimentada. O governo do democrata Mauro Mendes queima pestanas pra tentar concluir a obra, que começou no governo de Silval Barbosa, atravssou o mandato de Pedro Taques (2015/18) e chega ao meado do mandato de Mauro Mendes.

MEMÓRIA – No começo dos anos 1980, o corretor de imóveis Manoel Cavalcante vendeu propriedades rurais na região onde mais tarde surgiria o município de União do Sul. A gleba por ele comercializada, inicialmente chamou-se Paralelo 16 e posteriormente Itaipu. Os compradores, porém, enfrentaram problemas porque a documentação não era legal. Com isso, surgiram questões agrárias com sérios desdobramentos judiciais, muitos dos quais ainda pendentes.

A região, à época, refletia a balbúrdia agrária mato-grossense, com terras sem documentos e documentos sem terras. Além de Manoel Cavalcante, outros vendedores de imóveis rurais surgiram na área oferecendo e vendendo glebas como se fossem suas. Ainda hoje, boa parte das fazendas e sítios não têm títulos definitivos.

Para suporte aos proprietários rurais, a exemplo do que acontecia nos demais projetos de colonização em Mato Grosso, Manoel Cavalcante abriu uma clareira na mata e em 28 de agosto de 1983 o vazio demográfico foi vencido pelo surgimento de uma vila, que oficialmente nasceu naquela data e não tinha nome oficial. Alguns a chamavam de Paralelo 16, outros de União – em alusão a uma gleba existente na região. A indefinição quanto ao nome dificultava e, não raramente, impedia o recebimento de correspondência por parte dos moradores. Para se verem livres desse problema, os habitantes resolveram que deveriam definir a questão da denominação do lugar.

O crescimento da vila resultou em sua emancipação no dia 21 de dezembro de 1995, data em que o governador Dante de Oliveira sancionou uma lei de autoria do deputado Ricarte de Freitas  criando União do Sul desmembrado de Cláudia, Marcelândia e Santa Carmem. O muncípio pertence a comarca de Cláudia.

A igreja onde tudo começou…

MÃOS DADAS – Entendimento zero. Uns defendiam Nova Concórdia em alusão à cidade de Concórdia (SC), de onde procediam. Outros apresentavam várias opções. A consensualidade parecia algo impossível na tarde do domingo 12 de agosto de 1984, quando um grupo de moradores se reuniu para escolher a denominação da vila, após rezar o terço na Igreja Nossa Senhora Aparecida.

A discordância deu lugar ao consenso após o sitiante e dono de serraria Adelmo Ragnini, gaúcho de Cacique Doble, sugerir União do Sul.

… E a nova igreja da cidade

A sugestão soou bem e caiu no agrado por simbolizar o estado de espírito dos pioneiros da vila União ou vila Paralelo 16, como era chamado o recém-fundado vilarejo, hoje cidade de União do Sul, na calha do rio Tartaruga.

Adelmo deve ser caso único de cidadão brasileiro residente numa cidade cujo nome foi por ele escolhido e diz que se sente feliz pela aceitação de sua sugestão. “Poucos homens escolheram o nome de sua cidade; eu sou um deles”, comenta com uma ponta de orgulho, que nem mesmo sua simplicidade e mãos calejadas no trabalho diário conseguem esconder.

FOTOS: Boamidia

Garimpeiro construtor de escolas

Cacheado

Antônio Alves da Silva é nome estranho em Novo Mundo, cidade por ele fundada no Nortão. Porém se alguém se refere ao Cacheado, todos o conhecem. Afinal esse é o apelido do ex-garimpeiro de Campo Maior (PI), que chegou à região em 1979, quando tudo ali se resumia ao garimpo de ouro.

 

Aluno da escola do mundo, Cacheado assina o nome.

Ausente do banco escolar pela dureza da vida, Cacheado retribuiu com grandeza essa adversidade: construiu as duas primeiras escolas de Novo Mundo.

Vítima de derrame, Cacheado se recupera na fazenda Santa Ana, de sua propriedade, no KM 1.055 da BR-163, em Guarantã do Norte.

Com dificuldade de fala Cacheado resume seu sentimento sobre a cidade, “Tenho olhos bons para os lados de lá”.

NOVO MUNDO – Emancipado de Guarantã do Norte em 17 de novembro de 1995 por uma lei do deputado Jorge Yanai sancionada pleo governador Dante de Oliveira, Novo Mundo tem 5.791,050 km², 9.178 habitantes, o IDH é 0,674 e a renda per capita R$ 21.325,22. A cidade tem acesso pavimentado pela MT-419 que faz sua ligação com Guarantã Norte, do qual é comarca. O município faz divisa com o Pará e sua base econômica é a pecuária.

 

Conga, Conga, Conga na madrugada

Mais de 20 mil garimpeiros extraíram grande quantidade de ouro na Pista do Cabeça entre 1982 e 85. Quem controlava aquela área de 19 mil hectares era o paraibano Eliézio Lopes de Carvalho, o Cabeça (foto), que recebeu uma montanha do metal como pagamento de sua parte no garimpo e por remédios, gasolina, bebidas, mulheres, alimentos etc. que fornecia aos garimpeiros, além do transporte aéreo que fazia com seus aviões. Cabeça jurava que por seus bolsos passaram 12 toneladas.

Os donos das pistas de garimpo no Nortão e Pará faziam chover e acontecer. Cabeça foi um deles e estavam sob seu poder a segurança, saúde, as regras sociais e a economia dos milhares de garimpeiros de todos os cantos do Brasil que viviam a aventura do ouro na sua pista localizada na calha do rio Teles Pires, em Alta Floresta.

A agora desativada Pista do Cabeça ficava a 75 quilômetros de Alta Floresta. À época não havia estrada e o meio de acesso era o avião.

Cabeça promoveu 36 shows nacionais para animar as noitadas dos garimpeiros. Amado Batista, Waldick Soriano, Walter Basso, Nelson Ned, Donizete e Suzamar foram algumas dessas atrações. Dona Maria Odete Brito de Miranda fez show por lá e na madrugada rebolou Conga, Conga, Conga para o anfitriãoEssa senhora é Gretchen, a rainha da preferência nacional.

Em 2001, numa entrevista que me concedeu, Cabeça disse que em sua pista não houve violência e que ninguém nunca desafiou sua autoridade. A paz entre os garimpeiros representa aquilo que foi o quase reino do Cabeça, na pista que levava seu nome e onde a última palavra era a dele, inclusive na hora do Conga, Conga, Conga da rainha do bumbum.

ADEUS – Alta Floresta perdeu o lendário Cabeça no final da tarde da quinta-feira, 13 de julho de 2017. Depois de 10 dias internado, Cabeça não resistiu mais ao tumor que o minou pelo abdome. Velado por amigos e antigos companheiros, o líder garimpeiro deu adeus ao mundo..

Eduardo Gomes – Boamidia

FOTO: Geraldo Tavares

 

 

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